11.4.14

podemos ser honestos?

Eu tenho defeitos, defeitos que, por definição, envergonham realmente uma pessoa, e pensava que iria conseguir aguentar-me na minha pele durante todo este compasso de espera que me coube passar na Terra sabendo de antemão esse facto, já que, como é bem sabido por todos, toda a gente tem defeitos, e isso é do mais reconfortante que há.
Mas aparentemente enganei-me. De acordo com o que me deparo, ninguém tem defeitos impronunciáveis, daqueles que brotam mesmo dos escarninhos do nosso ser, mas antes particularidades que podem ser, no máximo, engraçadas, que talvez atinjam o estatuto de curiosidade, mas nunca são coisas repelentes. Falo de particularidades como ser-se muito teimoso, ter a mania das limpezas, ser-se desarrumado, não ter destreza manual nenhuma, deixar o pacote de leite vazio no frigorífico, etc.
Ora, eu, perante defeitos tão... comezinhos, às tantas já me pergunto se serei uma pessoa desprezível, daquelas com realmente maus fígados ― só pode, com a quantidade de pensamentos viciosos que de quando em quando atravessam a minha mente e que, enfim, acabam por se revelar no meu carácter. Mas, por outro lado, também me questiono se esta gente consegue ser assim tão cínica que negue aquilo que é só natural em nós. É que até Nelson Mandela foi capaz de reconhecer as suas falhas e contradições, a falsa generosidade, a necessidade de validação externa, e isso não retira um milímetro à sua grandiosidade em vida, no entanto, esta gente parece julgar-se superior a defeitos vis. E como me enjoa esta falta de realismo à minha volta...

2 comentários:

  1. nem sabes o quanto eu concordo nisso... passei até agora o dia a observar pessoas e a sua falta de realismo e lógica... depois percebo que grande maioria das pessoas está simplesmente triste...

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  2. Ultimamente tenho pensado recorrentemente nisso. E concordo: as pessoas só sabem ver os seus defeitos nos outros. Vai contando exemplos. Talvez assim as pessoas abram a pestana e aos poucos abandonem certas máscaras.

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